Temer já dá sinais de abrir o bico (em 07/05/16)
Em um post anterior (LEGITIMIDADE de 05/05) eu disse que era melhor enfrentar um problema novo do que um problema velho. Tenho um pouco de medo dessa afirmação.
Dentro da lógica segundo a qual nada pode estar tão ruim ao ponto de não poder piorar, a tendência é que o problema novo supere o problema velho em tamanho e complexidade.
É isso que se apresenta para futuro presidente da República o Sr. Michel Temer, e parece, que ele já começa a sentir o peso da carga completa do fardo nas costas (Ver também DILMA SIMPLESMENTE NÃO APRENDEU E TEMER NÃO ENTENDEU! de 17/04).
Como diz o Capitão Nascimento, na fala final do Tropa de Elite II, “O sistema é f.…! ”. E realmente é!
Parece que o futuro presidente Temer (antes conhecido como “mordomo de filme de terror”) já começa a se dar conta dessa realidade dura acerca do “sistema” e já dá sinais de sucumbir a ele em nome de uma “governabilidade”.
Temer já enfrenta dificuldades em montar seu pretenso governo, simplesmente porque já se viu enredado no desgraçadamente comprometido sistema político brasileiro.
Temer já começou a trocar cargos por apoio.
Exemplo esdrúxulo: O nome cotado para o Ministério da Ciência e Tecnologia é do Sr.Marcos Pereira, advogado, presidente do PRB (Partido Republicano Brasileiro) e ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (ele é um bispo licenciado), logo, vinculado à bancada evangélica e tudo que ela representa de deletério no que tange a sua participação na política brasileira.
(NOTA: Portanto, aqui a questão não se resume à questão CIÊNCIA x RELIGIÃO. Acho que cada dia que passa a academia mostra que esse debate e convivência é uma necessidade em qualquer sociedade que pretende ser democrática e madura. Sou um cristão protestante – o que é quase sinônimo de evangélico no Brasil – mas minha opinião sobre a atuação política desse grupo é outra história e tema para discussões futuras – mas à guisa de esclarecimento – ELES NÃO ME REPRESENTAM! A crítica é então essencialmente política).
O problema não é o Marcos Pereira ser ligado a este ou aquele partido ou a este ou aquele grupo religioso ou a ser criacionista. Não é isso de jeito nenhum.
A questão é: qual a experiência e credencias que ele tem para assumir uma pasta tão importante para qualquer país que se pretende sério e que pretende construir “uma ponte para o futuro”.
Essa pasta é altamente técnica e demandaria alguém com conhecimento e credenciais para entender e implementar políticas de desenvolvimento científico e tecnológico (tudo o que precisamos no curto, médio e longo prazo) além de ser articulado com o Ministério da Educação e do Planejamento.
Como Marcos Pereira chegou a ser cogitado para a pasta?
Negociata. Necessidade de apoio político.
É a única resposta que me ocorre.
Vou parrar por aqui porque já estão à baila nomes os mais estranhos para pastas estratégicas.
Temer falava de boca cheia que ia, logo de início, cortar dez ministérios, mas nessa semana declarou que devido à “realidade” (ou “surrealidade”?) Política do país só ia conseguir cortar no máximo dois.
O PMDB começa a ser mais PMDB do que nunca. O PMDB que ensinou o PT essa arte, abre o balcão de negócios para não perder o PSDB (que é um adversário) e para ganhar o máximo possível do chamado centrão do Congresso Nacional a título de “estabilidade política” e “governabilidade”.
Mais, muito mais do mesmo.
Temer começa a se perder antes de começar.
Pelo jeito Temer só vai ter uma ferramenta na mão. Uma tesoura. Vai cortar tudo que der a título de “estabilidade econômica”. Não vai ter condições de dar início às reformas que o país tanto necessita.
Gostaria que ele fizesse diferente, que ele realmente fizesse algo diferente mesmo que dentro das bases programáticas apresentadas pelo seu partido “Uma Ponte para o Futuro” – independente de eu concordar, de me agradar ou não – simplesmente pelo fato de que precisamos de que programas ideológicos claros comecem a ser implementados para que a gente possa começar a aprender a separar as coisas e a saber quem é quem e quem pensa o quê. Para que situação seja situação e oposição seja oposição, para que o jogo político de verdade comece.
Em contrapartida:
Vão derrubar direitos trabalhistas? Povo na Rua.
Vão reformar a previdência usando uma metodologia prejudicial à população? Povo na Rua.
Fomos voto vencidos? Ok.
Que vivamos para lutar num outro dia.
E por aí vai…
E por aí se estabelecerá o jogo político de verdade e não essa jogatina que virou a política brasileira.
É tempo de ideias e programas. Não a esse tal de “pragmatismo político” sinônimo de negociata.
Precisaríamos nesse momento de alguém com a grandeza de saber que terá um mandato de dois anos. E que deveria lançar bases para o próximo governo. Arrumar a casa no que fosse imprescindível.
Mas o que vemos é a preocupação de Temer se ele vai ou não morar no Palácio do Planalto.
Me lembro de novo de Voltaire: “O povo é a canalha que deve ser guiada”. Vamos deixar isso acontecer de novo?
Me lembro da máxima do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”
Enquanto isso em Gotham City ninguém sequer toca nos bancos…que drenam toda a riqueza do país junto com seus rentistas.
Vamos ver para onde nos levará essa ponte.
Uma coisa é certa, a história não é o judiciário. Ela não absolverá os culpados.
(Em 07/05/16)