O dilema do Alfarrabista 2 (em 27/06/2017).
Escrever é uma atividade árdua e como toda atividade árdua demanda disciplina. Bem, assim pelo menos ensinam os “manuais” e se considerarmos disciplina uma virtude, ela como qualquer outra virtude, precisa ser cultivada.
Logo, a questão que se impõe imediatamente ao Alfarrabista é como cultivar uma virtude, ou mais além, como ser virtuoso em tempos de tão pouca virtude?
Pois bem, nunca foi intenção do Alfarrabista escrever sobre política, mas por culpa da Fortuna ou da Virtù, ou melhor, segundo o autor do “Príncipe” como consequência da confluência das duas, para qualquer observador atento e honesto que se preze, a realidade se sobrepõe ao desejo (ou às paixões) e a realidade brasileira parece tão paradoxalmente arquetípica e sui generis que demanda, senão um posicionamento, pelo menos uma observação atenta do desenrolar da trama dos seus fatos e atos.
Então, o Alfarrabista se vê diante de outro dilema: A realidade por mais colorida que seja cansa. Tudo acaba ficando muito insípido – chato mesmo! – E talvez por falta de virtude ou por dissonância entre a Virtù e a Fortuna, talvez consequentes de sentir os efeitos dos fenômenos observados na própria carne, ou ainda por puro e simples escapismo, ou pior ainda, por ter a sensação de já conhecer o final da história ex ante, o Alfarrabista se vê impulsionado a abandonar esses grandes temas e retornar à sua introspecção insignificante.
Para seguir, ao Alfarrabista então não resta nada, a não ser se apegar com vigor atávico ao verso do romântico Gonçalves Dias:
“A vida é luta renhida que só aos fracos abate, e aos fortes, só faz exaltar”
É, o romantismo nunca se fez tão necessário como nesses dias.
E, resignado, como aquele árabe que decreta “Maktub!” diante de seu destino indelével, volta a escrevinhar, pedindo por virtude, onde e se houver, e tal como o filósofo Diógenes de Sinope, de lanterna na mão, continua procurando por um homem honesto, com pouca esperança de encontrar.
(Em 27-06-2017)