Still I rise (em 20/11/2017).
STILL I RISE
Dia da Consciência Negra. Muito o que falar, muito mais ainda que fazer. Uma luta que jamais terminará. Já tenho consciência que há dívidas que são impagáveis em si mesmas. Não há reparação possível. A dívida é impagável.
Em tempos de debates amargos e rasos, de dedos apontados e em riste, me atenho ao que ensina Aristóteles, que devemos dar mais atenção à poesia que à história dada a universalidade daquela diante da efemeridade desta.
Diante todo o estado de coisas que presenciamos no Brasil e mundo afora, não pude não me lembrar de outra coisa além do poema-grito, ao melhor estilo negro spiritual, de Maya Angelou, escritora, poetisa, atriz, ativista, mulher, negra, amiga de Dr.M.L.King e Malcom X “Still I Rise”.
As palavras dela são as minhas:
STILL I RISE*
You may write me down in history
With your bitter, twisted lies,
You may trod me in the very dirt
But still, like dust, I’ll rise.
Does my sassiness upset you?
Why are you beset with gloom?
’Cause I walk like I’ve got oil wells
Pumping in my living room.
Just like moons and like suns,
With the certainty of tides,
Just like hopes springing high,
Still I’ll rise.
Did you want to see me broken?
Bowed head and lowered eyes?
Shoulders falling down like teardrops,
Weakened by my soulful cries?
Does my haughtiness offend you?
Don’t you take it awful hard
’Cause I laugh like I’ve got gold mines
Diggin’ in my own backyard.
You may shoot me with your words,
You may cut me with your eyes,
You may kill me with your hatefulness,
But still, like air, I’ll rise.
Does my sexiness upset you?
Does it come as a surprise
That I dance like I’ve got diamonds
At the meeting of my thighs?
Out of the huts of history’s shame
I rise
Up from a past that’s rooted in pain
I rise
I’m a black ocean, leaping and wide,
Welling and swelling I bear in the tide.
Leaving behind nights of terror and fear
I rise
Into a daybreak that’s wondrously clear
I rise
Bringing the gifts that my ancestors gave,
I am the dream and the hope of the slave.
I rise
I rise
I rise.
Que ouso traduzir, em homenagem e em nome de todos os excluídos e oprimidos nesse dia de memória e luta:
AINDA ASSIM EU ME LEVANTO
Você pode me riscar da História,
Com sua mentiras amargas e torcidas,
Pode me esfregar no chão sujo,
Mas ainda assim, como a poeira, eu me levanto.
Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui poços de petróleo,
Jorrando na minha sala de estar.
Como luas e como sóis,
Com a certeza das marés,
Como a esperança que emerge,
Ainda assim eu me levanto.
Você não queria me ver quebrada?
De cabeça e olhos baixos?
Ombros caídos como as lágrimas,
Enfraquecida pelo pranto de minh´alma?
Meu orgulho o ofende?
Não tome isso tão a sério,
Porque eu rio como quem possui minas de ouro,
Cavadas em meu próprio quintal.
Você pode atirar em mim palavras afiadas,
Você pode me cortar com os seus olhos,
Você pode me matar em nome do seu ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu me levanto.
Minha sensualidade te incomoda?
Te causando surpresa
Porquê eu danço como se tivesse diamantes
Nas juntas das minhas coxas?
Das palhoças de vergonha da história
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Indo e vindo de encontro à maré
Deixando para trás noites de terror e medo
Eu me levanto
Num raiar de dia escandalosamente claro
Eu me levanto
Trazendo as dádivas que me deram meus antepassados,
Eu sou o sonho e a esperança do escravo.
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.
__________
(*)”Still I Rise” in Still I Rise: A Book of Poems. Copyright © 1978 by Maya Angelou. The Complete Collected Poems of Maya Angelou (1994).
Foto: Christina Tarkof //christinatarkoff.com/paintings/still-i-rise
(Em 20/11/2017)