O Alfarrabista

O Alfarrabista

Legitimidade (em 05/05/2016).

Sigo falando reiteradamente – a despeito de meu mais completo desacordo com o seu governo, modo de governar e alinhamento político – acerca do meu posicionamento a favor da presidente Dilma nesse processo de impeachment.

Meu argumento tem sido sempre o de que ela é a presidente eleita por voto direto por 54 milhões de brasileiros com ou sem estelionato eleitoral (eu particularmente acho que foi estelionato eleitoral, mas fica a pergunta no ar, qual campanha no Brasil, não é?).

Essa votação é no que o PT e todo grupo da esquerda tenta se apegar para tentar defender Dilma e legitimar sua autoridade e permanência no governo porque de fato é muito representativa, além de ser o único fato tangível que eles têm a favor de Dilma já que a Constituição Federal como temos visto está sujeita a interpretações e contorcionismos mil.

Contudo, o que a base governista (esquerda) não entende é que essa cifra, por mais expressiva que seja, não pode legitimar qualquer ação ou falta de ação de um governante eleito para sempre.

Dilma foi eleita. Dilma foi bem votada. Mas, a mesma Dilma não soube montar um governo e não soube governar o país.

Vendeu a alma ao diabo. Aqui vale aquela antiga máxima “diga-me com quem andas e te direi quem és”.

Há é quase um consenso entre quem tenta olhar as coisas de maneira mais objetiva de que Dilma paga pelo que fez e deixou de fazer.

Há um movimento estranho de contorcionismo constitucional por parte de todo mundo para tirá-la do cargo? Sim. Há. É um golpe. Sim. É., mas por que?

Por que ela simplesmente foi incompetente e deixou isso acontecer.

Agora, simplesmente ficar falando em 54 milhões de votos e em golpe não vai mudar nada.

A verdade é que ela vai cair, em primeiro lugar porque perdeu o APOIO POPULAR.

Dilma vai perder o cargo porque perdeu as ruas. O Congresso brasileiro jamais ousaria se levantar contra uma presidente com aprovação popular. Aquela corja sabe onde pisa. Tanto que em 2013 quando não se sabia muito bem a origem das manifestações populares, o mundo político ficou petrificado e sem saber o que fazer não fez nada. Esperou.

Dilma vai perder o cargo porque realiza um dos piores governos da história da América Latina (a sua sorte é existir a Venezuela e Nicolás Maduro! Viva a Venezuela! Viva Maduro!). Sua sensibilidade política é algo assombrosamente baixa.

O povo, por outro lado, que é muito mais sensível que os doutos analistas políticos e economistas imaginam, desembarcou do governo Dilma desde 2013 enquanto que a resposta do sistema político só está vindo agora em 2015.

Logo no início do segundo governo de Dilma o povo percebeu que ia pagar a conta – e em dólar – quando as tarifas e os juros que não iam subir subiram, quando a inflação estourou, quando se começou a ir no supermercado e ver com o próprio bolso que seu dinheiro estava encurtando, quando se começou a ver as obras pararem, as lojas fecharem, os empregos sumirem.

Tudo isso tornou Dilma – a mesma dos 54 milhões – a presidente com um dos menores índices de aprovação da história, ou seja, se fosse concorrer a uma eleição hoje jamais chegaria aos 54 milhões de votos. Jamais ganharia uma nova eleição, que agora ela defende em um último espasmo.

Dilma é responsável por Temer ser seu vice, ou será que alguém a forçou a compor chapa com esse ilustre cidadão e futuro presidente por duas vezes?

Dilma é responsável pela aceleração da aplicação dessa loucura que se chamou “nova matriz econômica” e seu conjunto de políticas anticíclicas (incluindo as “pedaladas”) que deflagraram esse ciclone na economia – que não se recuperará – com muito otimismo nos próximos 5 anos (com um pouco mais de realismo essa década já está perdida e levaremos mais alguns anos para voltar aos níveis de 2005).

Dilma é responsável por Cunha, pois não teve competência ou vontade para evitar que chegasse à presidência da câmara do Deputados, prova flagrante que tinha perdido o timão do governo.

Dilma é responsável por Cunha, pois consumado o fato de sua eleição para presidente da Câmara negociou com ele.

Dilma é culpada de ter sido grampeada e não saber – Ora o mínimo que se espera do governante de um país das dimensões do Brasil era que seu corpo de segurança soubesse protege-la de um grampo – A NSA ainda vai, porque grampeou até a Angela Merkel, mas o Moro, pelo amor de Deus!

Dilma não pode mais se apegar a esse discurso de vítima. Ela não é vítima e se for é vítima de si mesma. Ela não está sozinha e se acabou ficando nessa posição foi por sua própria incompetência.

Dilma parece um autômato.Um robô. Um Golem -Ela é o Golem de Lula – que agora entrou no “modo discurso”. Falatório. Palavrório. Bravatório.

Dizer agora que o Cunha é corrupto? Agora? Ninguém mais quer ouvir o que ela tem para dizer. É triste, mas é verdade.

O Brasil cansou.

É verdade que impeachment não é solução para governo ruim. É verdade que vai ficar muito pior do que já está antes de começar a melhorar.

Mas, legitimidade, Dilma não pode mais reivindicar para si.

Dilma, querida, eu tentei até por amor à democracia te defender, mas sinceramente, está na hora de virar a página. Não dá mais.

Hora de olhar para frente, respirar fundo e enfrentar o novo dragão que se aproxima.

Melhor um problema novo do que persistir num problema velho.

Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca, certo?

(Em 05/05/16)

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