O Alfarrabista

O Alfarrabista

Bolsonaro representa o Brasil? Claro que sim! (em 03/09/20).

Bolsonaro representa o Brasil. Claro que sim! Legitimamente, pelas urnas e pela história. O Brasil que ele representa é o Brasil que sempre esteve lá, ou melhor, aqui, também faço parte dessa construção. Não é que ele tenha entrado na cabeça dos brasileiros. O fato é que ele está, sempre esteve na cabeça dos brasileiros, porque o que ele representa faz parte de nossa alma como povo. Está na nossa construção. Aquela, que preconiza a ignorância como virtude, a falta de educação (formal e relacional), a brutalidade, a “esperteza” como modo de vida, o moralismo piegas, a religiosidade torta com pitadas generosas de falta de virtude e indolência.

Ele é o Brasil. Ele somos nós. O nível de Bolsonaro que há em você não importa. De que lado do espectro você está não importa. Se descolado ou careta, liberal ou conservador, não importa, se branco ou preto, também não importa. Ele está lá, ecoando, seja você oprimido ou opressor. Reconheçamos isso logo de saída. Sair do estado de negação sempre torna as nossas vidas mais fáceis.

Ele é o militar indisciplinado. Ele é o funcionário público que incha o Estado (que sempre tem faltado a quem precisa). É o deputado que não legisla. É o cidadão de moral frouxa. É o pai que mima. É homem brucutu, misógino, machista, moralista e hipócrita. É o religioso domingueiro. É o hipócrita. É o “tiozão” que tem aquele jeitão escroto que todo mundo conhece e desgosta, mas tolera no almoço de domingo por causa da avó. É o escroto. É o presidente que não preside. É o “cidadão de bem”. É o Zé Ninguém de Arendt.

 Bolsonaro representa a direita tupiniquim. Escrota, chucra, supremacista branca de cor parda, amarelinha, conservadora nos costumes (o que é isso?? Que costumes essa gente tem??) e liberal na economia (??). Jabuticabas. Que acossam uma menina desafortunada de 10 anos, que teve a desventura de engravidar em consequência de um estupro. Que acossam essa menina, que precisava de empatia, acolha e misericórdia, em nome de religião. Não pensaram na lei. (Queria muito saber a opinião de Cristo a respeito do assunto…ah! esses cristãos-pagãos-chucros, andam com o Livro embaixo do braço até deixar a marca dele nas suas sovaqueiras, mas não se atrevem em abri-lo, muito menos a lê-lo). Eles criam e apoiam milícias (Gladiadores do Altar, Guardiões do Crivella). Que criam polícias secretas particulares, que usam dark psicology, que não tem pudores em descer aos mais baixos níveis e de serem autofágicos.

Ele é o militante indisciplinado. Ele é o funcionário público que incha o Estado (que sempre tem faltado a quem precisa) e se esconde em um sindicato. É o deputado que não legisla. É o cidadão de moral frouxa. É o pai que mima. É homem que ajuda nas tarefas domésticas e a cuidar dos filhos. É o revolucionário domingueiro. É o “tiozão” que tem aquele jeitão gente boa que todo mundo conhece e gosta, que adoramos no almoço de domingo por causa da avó. É o gente boa insosso. É o presidente que não preside. É o “revolucionário do mundo melhor”.

Bolsonaro, pasmem, representa a esquerda tabajara. Escrota, chucra, militante negra esbranquiçada, progressista nos costumes (o que é isso?? Que costumes essa gente tem??) e desenvolvimentistas na economia (nem se assumem como revolucionários mais, porque são pautados por forças estranhas). Que apoiam incondicionalmente uma menina desafortunada de 10 anos, que teve a desventura de engravidar em um estupro a abortar. Que acossam essa menina, que precisava de empatia, acolha e misericórdia em nome de um ativismo político quase religioso. Não pensaram na lei. Que foram pioneiros em criar e apoiar milícias. Que criaram polícias secretas particulares, que usam dark psicology, que não tem pudores em descer aos mais baixos níveis e de serem autofágicos. Que aprimoraram a cleptocracia. São de uma tonalidade verde cafonas e démodé, iludida, que ousaram ser deixados para trás porque foram seduzidos pelos salões da República e pelo escapismo cult burguês, abrindo o caminho para a chegada desse que está aí, ajudando a pari-lo, já que em certa parcela também estava dentro deles. Ele é seu subproduto, o vinhoto, o chourume. Não teria sem eles chegado onde está. São a patrulha do pensamento alheio tanto quanto os outros. Lacradores, canceladores.

Enfim, somos uma sequência direta do que aconteceu em 1500. Não superamos o colonialismo, o provincianismo, o escravismo, o coronelismo, o complexo de vira-lata (as continências e mais continências nos provam isso), o patrimonialismo, o fisiologismo…e todo os mais “ismos”.

As tão faladas e amarrotadas instituições são o que nós somos, ou pior, o que gostaríamos de ser no lugar dos que lá estão. Sabe qual o problema da revolução? Nos tira a chance de chegar onde os que estão já estão.

E o nosso comportamento durante a pandemia? Ah, o nosso comportamento diante da pandemia, mostra muito do que quero mostrar. Somos uma praia cheia em tempos de pandemia. Mas nesse quesito nem tenho forças para avançar…

…Em suma, saiamos da negação, somos todos somos partes do mesmo bolo. Talvez isso ajude a começar a melhorar alguma coisa.

PS. Escrito no 168º dia de isolamento social hard core.

Imagem: Crédito: https://sharirubinstein.com

(Em 03/09/2020)